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domingo, 26 de abril de 2020

Uma Páscoa diferente


Este ano tivemos uma Páscoa diferente. Depois do cancelamento do Sagrado Lausperene e do Senhor aos Enfermos, também não se realizou a missa de Lava-pés na Quinta-feira Santa, a Via Sacra na Sexta-feira Santa, a vigília pascal na noite de Sábado Santo nem houve compasso pascal nos três dias habituais. Não houve também a festa da Pascoela nem a Primeira Comunhão, prevista para o dia 26 de abril. Foi uma Páscoa triste a culminar uma Quaresma sem missas, sem procissões nem a habitual confissão sacramental que se realiza, segundo a doutrina cristã, ao menos pela Páscoa da ressurreição.
Afastados dos seus paroquianos, alguns sacerdotes desvelaram-se em publicações nas redes sociais, rezando o terço e celebrando a Eucaristia, sem assistência, que transmitem através do Facebook. Houve também uma campanha, que ninguém sabe como começou mas que se espalhou rapidamente por todo o país, que foi a das cruzes pascais. Todos fomos convidados a construir uma cruz, de um qualquer material, e a colocá-la em nossas casas, nas varandas, na porta, na janela ou onde desse mais jeito e ficasse visível da rua. Durante a Semana Santa essa cruz teve um tecido ou fita de cor roxa e ramos de oliveira, que no dia de Páscoa foram substituídos por um tecido branco e flores. Também fomos convidados a elaborar um altar doméstico no interior do nosso lar, com os nossos santos, um crucifixo, a Bíblia, flores, etc.
Desse modo vivemos este ano a Páscoa, que devido à pandemia de Covid-19 ficamos impedidos de celebrar com a habitual festa e alegria, mas estamos todos bem e é o mais importante. Para o próximo ano, se Deus quiser, tudo voltará ao normal.

sábado, 25 de abril de 2020

Não busquemos alívio na ideia de que só morrem velhos


Vivemos tempos difíceis, de ansiedade e medo, perante a ameaça do novo coronavírus. Houve que fazer mudanças em tudo aquilo a que estávamos habituados, desde a missa de domingo à ida ao café, ou até uma simples visita a familiares. Tudo mudou. Há falta de transportes públicos, fazem-se filas à porta das lojas e supermercados que ainda se mantêm abertos, afastamo-nos uns dos outros respeitando a medida de distanciamento social, saídas apenas para o estritamente necessário. Estamos confinados em nossas casas, agarrados ao telemóvel, computador ou tablet para comunicarmos com os amigos e seguirmos as informações sobre o número de infetados, mortos e recuperados da Covid-19. A televisão faz companhia aos idosos que vivem sós, com os quais parece que não se importa, pois vai atirando dados e estatísticas com a pretensão de nos aliviar o medo mas aumentando o medo e ansiedade de quem tem a idade já um pouco avançada nos anos.
Ah, isto só morrem velhos, ouvimos dizer amiúde. Pois bem, os velhos são pessoas, são os nossos pais, os avós, os tios, os vizinhos. A idade não tira identidade a ninguém. Aquele velho de 80 anos que faleceu com o novo coronavírus é da mesma idade do nosso avô, do nosso pai, do vizinho que nos poda a vinha, da vizinha que nos dá couves ou um raminho de salsa, dos nossos padrinhos, dos nossos tios. É uma pessoa. Nem a idade nem a doença lhe retiram a dignidade de ser alguém, do direito à existência e preservação da vida como a qualquer um de nós.
É triste que busquemos alívio na ideia de que só morrem velhos, como se eles fossem descartáveis. Não são, uma sociedade sem velhos está incompleta, mutilada. As crianças precisam de conviver com a velhice, com o carinho da avó e cumplicidade do avô, com a ternura e paciência com que a tratam. Ter avós é ter a sorte de conhecer um mundo diferente mas gratificante, de ouvir histórias, de aprender cantigas, ditados, orações, lengalengas.
Ter avós é ter a sua primeira enciclopédia pessoal, é sentir o coração encher-se de ternura com os mimos que deles se recebe, nem que seja a oferta de um simples chocolate, uma peça de fruta ou um carregamento do telemóvel.
Cuidemos dos nossos avós, de todos os avós, cumprindo as medidas impostas ou aconselhadas pelos nossos governantes, evitando ser contagiados ou contagiar alguém.
Por nós, por todos. Porque todos importam. E não, não são só os velhos que morrem nem vai ficar tudo bem, mas esperamos que fique o melhor possível.