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sábado, 5 de março de 2022

Colóquio - Castelo do Neiva a falar de História


Na tarde de sábado, dia 5 de março, decorreu no Centro Cívico um colóquio sobre a História de Castelo do Neiva. Quatro jovens licenciados de Coimbra, com apresentação e moderação pelo nosso conterrâneo Rodrigo Vaz, apresentaram-nos um excelente trabalho de investigação histórica sobre a nossa terra.


O primeiro dos oradores, João Santos, focou a sua intervenção em alguns artefactos encontrados em Castelo do Neiva e que se encontram no museu do Centro Cívico, nomeadamente os dois capacetes de bronze e uma moeda, e no castro existente no Monte do Castelo e o lagar. 
Ficámos a saber que a moeda, com a figura do imperador romano Augusto, era um dupôndio que esteve em circulação nos séculos 26-25 a.C. e que com essa moeda se poderia comprar um pão inteiro e meio litro de vinho. Os capacetes de bronze são do tipo Monfortino B, de origem celta, utilizados entre os séculos III a.C. e meados do século I d.C.. O castro era um povoado fortificado, com vestígios de ocupação pré-romana, romana e medieval, com elevada densidade populacional, sendo impossível definir cronologicamente essa ocupação. 
Falou também sobre o lagar, conhecido entre nós por penedo das chaves.


Seguidamente falou Anita Mateus, cuja especialidade são os castelos roqueiros. Roqueiro, neste caso, vem de rocha, ou seja, são os castelos edificados em rochas. 
Depois de nos mostrar um exemplo de um castelo roqueiro ainda existente, o Castelo de Penela, explicou-nos que o que cá existiu era provavelmente uma fortaleza em madeira construída no cimo do monte, incrustada nas rochas. Ficava num ponto mais que estratégico de vigilância, pois dali se avistava quem viesse de todos os pontos cardiais, e teria sido inicialmente edificado para defesa do mosteiro de São Romão do Neiva. Disse que ainda há vestígios de orifícios feitos nas rochas para suporte do madeiramento do castelo e referiu a possibilidade de haver nele um cercado feito de giestas, pois os habitantes de freguesias vizinhas pagavam em giestas estipêndios ao alcaide que lá habitava. 


O terceiro orador foi Fábio Dias, que dissertou sobre Demografia e Sociedade das Pequenas Comunidades Rurais no Limiar da Contemporaneidade. Centrou a sua pesquisa nas Memórias Paroquias de 1758 e nos registos paroquiais. 
Entre outras coisas e como curiosidade, ficámos a saber que, apesar de o costume de se enterrar os mortos nas igrejas ter sido abolido em 1830, em Castelo do Neiva a primeira pessoa sepultada no nosso cemitério foi só dali a mais de cinquenta anos, em 1887. O defunto chamava-se José Rodrigues Paiga e tinha 23 anos quando faleceu. 
Referiu ainda a situação de um rapaz de Vila Chã que morreu afogado no rio Neiva e cujo corpo apareceu no dia seguinte, do lado de Castelo do Neiva e cá foi sepultado, pois havia nesse tempo o costume de enterrar os mortos na terra em que morriam e não na de sua origem ou morada.


Por último interveio João de Sousa, sobre Castelo do Neiva e os Bacalhoeiros, onde destacou a forte presença de capital humano da nossa terra nas frotas bacalhoeiras. Cerca de 230 homens naturais de Castelo do Neiva passaram pelas campanhas do bacalhau, sendo que o primeiro registo data de 1941 e o último de 1976, havendo maior presença nas décadas de 1950 e 1960.
Também ficámos a saber que houve dois navios com o nome Gil Eannes, ambos contruídos nos estaleiros navais de Viana do Castelo e ambos com a mesma função, ou seja, navio-hospital. O primeiro saiu para o mar em 1927 e o segundo em 1955. 
Em Viana foram também construídos os navios bacalhoeiros Sam Tiago, São Gabriel e Rio Lima. O Santa Maria Madalena foi comprado por uma empresa de Viana mas não foi construído nos seus estaleiros.


Ouvir quatro jovens desconhecidos a falar com entusiasmo na História da nossa terra, aprender com os mais novos a amar o património que nos identifica. Esta foi uma experiência edificante, parabéns aos quatro oradores e ao moderador Rodrigo Vaz, pela bonita ideia desta iniciativa. 

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