Antigamente era costume, ao serão ou nas tardes chuvosas de inverno, em que se aproveitava para cortar roupa velha em tiras para fazer mantas, ou escolher feijões, ou cozer batatas para os porcos, ou coser/remendar algumas peças de roupa, contarem-se histórias em verso, tradicionalmente designadas por xácaras, que passavam de geração em geração.
O Conde das Três Marias é uma xácara que a minha avó me ensinou e que aqui deixo, deve haver por aí algumas variantes e seria interessante comparar.
O conde das Três Marias
Por ser o conde maior
Ele tinha três meninas
Todas lindas como o sol.
A sua filha Faustina
Que era mais afidalgada
O seu pai a convertia
Para sua namorada.
-Valha-me a Virgem Maria
Valha-me a Virgem Sagrada
Eu quero ser sua filha
E não sua namorada.
Mandou fazer um palácio
Dos mais altos que havia
E meteu Faustina dentro
Sete anos e um dia.
O pão era-lhe por onça
A carne da mais salgada
Água não era nenhuma
A sede é que a matava.
Virou Faustina pra dentro
Por mais triste que ela andava
Encontrou a sua mãe
Numa sala passeava.
- Deus a salve, ó minha mãe
E Deus me salve a minha alma,
Por amor de Deus lhe peço
Que me dê um jarro de água.
- Como te hei-de dar a água
Minha filha tão honrada
Que há sete anos que vivo
Com teu pai mal casada.
Virou Faustina pra dentro
Por mais triste que ela andava
Encontrou a sua mana
Numa sala passeava.
- Deus te salve, ó minha mana
E Deus me salve a minha alma,
Por amor de Deus te peço
Que me dês um jarro de água.
- Como te hei-de dar a água
Minha mana tão honrada
Que o nosso pai já nos disse
Que nos amaldiçoava.
Virou Faustina pra dentro
Por mais triste que ela andava
E encontrou o seu pai
Numa sala passeava.
- Deus o salve, ó meu pai
E Deus me salve a minha alma,
Por amor de Deus lhe peço
Que me dê um jarro de água.
- Como te hei-de dar a água
Minha filha tão honrada
Pedi-te a tua mão direita
Disseste que me a não davas.
- Darei a minha mão direita
Darei a esquerda também,
Vá-me já buscar a água
Ou ma mande por alguém.
- Correi, vassalos, correi
Buscar água prà Faustina
Trazei-a num cálice de oiro
Ou de prata que é mais fina.
Quando o vassalo chegou
Já Faustina suspirava,
Morreu e foi para o Céu
Em anjos arrodilhada;
O pai foi para o inferno
Por o que a atormentava.
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