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quinta-feira, 2 de maio de 2019

As Nossas Senhoras de Fátima que deram à praia


Há noventa anos, mais precisamente no dia 18 de dezembro de 1928, um vapor português pertencente à Companhia de Navegação Carregadores Açoreanos encalhou nos chamados "Cavalos de Fão", ao largo da costa de Esposende. Era o vapor Lagoa, e vinha carregado de bens e produtos avaliados numa grande fortuna, que trazia de Inglaterra, França e Alemanha.
Vinha cheio, com centenas de sacos com açúcar, cacau, caixas de bombons, artigos de bazar, resmas de papel para impressão, harmónicas, pianos, discos para gramofones, cânhamo e uma grande variedade de artigos que faziam elevar o valor de toda a carga a muitos milhares de contos. No convés trazia trinta automóveis da marca Citroen.

O vapor LAGOA (colecção Francisco Cabral)

O dia era de sol, o mar estava "chão". O Lagoa, que tinha passado ao largo de Viana pelas 10h30,  navegava depressa mas muito para terra, segundo o relato de alguns pescadores de Fão que assistiram a tudo e que foi publicado no jornal Comércio do Porto de 20-12-1928. Eles ainda acenaram com lenços a avisar os do vapor, mas de nada adiantou e o naufrágio deu-se. Eram cerca das 11h30 da manhã. A explicação dada mais tarde para o acontecido foi de que se tratou de avaria num dos gualdropes do leme.
Houve perda total da carga, mas a tripulação salvou-se toda.
Ora, por esses dias, pescadores de Castelo do Neiva encontraram imagens de Nossa Senhora de Fátima, uns no mar, outros na praia. Imagens lindas como nunca se tinha visto por cá. Ainda ninguém tinha em casa uma imagem de Nossa Senhora, aparecida em Fátima 11 anos antes. Acredita-se que tenham vindo como carga do Lagoa.


As imagens são de porcelana, pintadas à mão. Na parte de trás têm dois orifícios, para se lhe pôr um arco ou auréola (que provavelmente traziam mas se perdeu no naufrágio). 
Na altura a imagem da Cova da Iria de Nossa Senhora de Fátima ainda não tinha a coroa que agora tem, e à falta de melhor tinham-lhe posto um arco de doze estrelas. A mulher de um dos pescadores de então mandou fazer para a sua imagem um arco em prata, com estrelas ornadas de pedras azuis, e colocou a imagem no oratório da casa.
Várias famílias oriundas dos pescadores mais antigos ainda conservam essas imagens. Eu também tenho uma, e o pescador que a encontrou no mar morreu em 1933. 

Na exposição de arte sacra organizada pelo padre Xavier, em outubro de 2013, havia seis imagens de Nossa Senhora de Fátima provenientes do Lagoa.

Capa do livro A Pérola de Portugal, publicado em 1931.
Na foto uma das primeiras imagens de Nossa Senhora de Fátima, com o arco de doze estrelas.

Em alguns "santinhos" a imagem de Nossa Senhora de Fátima tem o arco de doze estrelas

Sobre o naufrágio do Lagoa http://naviosenavegadores.blogspot.com/2014/01/historia-tragico-maritima-cxv.html

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