Fará noventa anos no próximo mês de dezembro, mas não se deixa condicionar pela idade.
É vê-la a ir à igreja ou à capela sempre que há missa, terço ou um funeral, agarrada ao seu bordão feito de cana. Não gosta de bengalas; acha que o bordão é mais seguro para um bom equilíbrio, e assim vai. Se lhe derem boleia aceita e agradece, se não houver quem a leve vai a pé, devagarinho mas cedo para chegar bem a tempo.
Um dia destes vou a passar e ela chama por mim. Diz que tem uns versos para me dizer mas que estes foram feitos por ela, não são como os outros que me tem dito. Faço recolha de tudo que é popular, sejam versos, orações, lendas, etc., e dela já recolhi bom material; desta vez, porém, foi ela quem fez os versos.
Vou num instantinho a casa, preparo o gravador e volto para o pé dela. Começamos a gravação com ela a proclamar estes versos:
Minha mãezinha querida
Tanto te queria ver
Dentro do meu coração
Tinha tanto que te dizer.
Obrigada, minha mãe,
Que me ensinaste a rezar
E agora lá no céu
Pede ao Senhor por mim
Para eu continuar.
Há tanta gente no mundo
A sofrer de depressão
E por mais voltas que deem
Não encontram solução
Porque se deixou perder
A prática da oração.
E remata com este cântico a Nossa Senhora:
Vela por nós, filhos teus,
Mãe de Jesus nosso bem
Tu podes, que és Mãe de Deus
E deves, que és nossa mãe.
Rosa Vitorino Rodrigues, mais conhecida como Rosa do Viegas: uma jovem na terceira idade.
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