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domingo, 7 de agosto de 2016

Uma figura que permanecerá na nossa memória

Foto de Zé António Cardante, no facebook

"Resolvi-me e fui às trutas
lá p'rò rio de Parada,
tirando duzentas trutas
dei fé da cana quebrada..."

Pode uma cantiga definir uma pessoa?
Pode. Manuel Augusto Dias Alves teve o nome ligado a esta cantiga de Quim Barreiros desde muito novo, criança ainda. Era o Nel da Emília, mais conhecido como Nel da Truta.

      
Foto do obituário
Penso que nasceu normal mas um dia fugiu para o monte, ficou lá uma noite e ficou mentalmente afetado. Pelo menos era esta a versão que sempre ouvi para explicar a sua condição de sempre menino; nunca evoluiu para a maturidade natural de ser homem, foi sempre uma criança, apesar do tamanho.
Decorava cantigas e tudo que lhe despertasse interesse. Quando aprendeu a canção da truta (quando o Quim Barreiros se iniciava nas cantigas) toda a gente lhe pedia para a cantar. E ele cantava. Lembro-me também de ele dizer de cor um texto que estava num antigo livro de leitura da escola primária, sobre um homem sábio que sabia tudo mas não sabia nadar.
Gostava muito de religião, dos santos e de ir à missa. A minha mãe tinha uma coleção em quatro volumes sobre a vida de Jesus Cristo; quando ela a comprou, ele todas as tardes ia lá a casa ler um bocadinho.
Antes de ser internado andava de casa em casa, visitava toda a gente do Lugar da Praia; era a sua rotina habitual, apesar de a mãe não aprovar com receio de que ele incomodasse as pessoas. Mas ele não incomodava. E ia todos os dias à missa.
Era das figuras mais queridas, não conheço ninguém que não gostasse dele.
Faleceu no dia 17 do mês passado, com 56 anos. A multidão presente no seu funeral prova que tocou os corações de todos que com ele privaram.
A esta hora, o Nel já viu os santos e os anjos, de que tanto gostava.
Paz à sua alma.

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