São já quarenta e um anos ininterruptos o que esta publicação leva aos ombros. Por ela passaram muitas pessoas, todas a trabalhar por amor à camisola, nem sempre com o reconhecimento merecido mas para quem trabalha por gosto a satisfação maior é saber que alguém, seja quem for, gosta do trabalho feito. E quem não gosta que ponha na borda do prato, diz o povo e digo eu.
Lembro-me bem de quando este jornal surgiu. A minha avó comprava-o sempre, para eu ler. E eu tinha oito anos...
Foi com este jornal que adquiri muita da cultura que agora tenho. Seguia com interesse as entrevistas ao falecido António da Jabela e foi aqui que tomei conhecimento do que era o Tarrafal. Lembro-me de ele contar sobre a "frigideira", uma cela pequena e abafada, que era o castigo para quem se portava mal. Para quem não sabe, o Tarrafal era uma espécie de campo de concentração para os presos políticos. Penso que se situava em Cabo Verde, que naquela altura era uma província portuguesa, fazendo parte de Portugal Ultramarino.
Foi também com este jornal que aprendi a fazer palavras cruzadas. Eu não sabia o que era aquilo mas um dia, depois de ter lido o jornal todo e ainda com vontade de ler mais, fui lendo aquelas palavras que eu não sabia para que serviam. E reparei no quadrado axadrezado acima. E reparei que sinónimos daquelas palavras cabiam nos quadradozinhos. E tentei. Pronto, aprendi a fazê-las.
Lembro-me de haver muita confusão com a forma como se lia o acrónimo GRECANE. Ninguém sabia como o fazer, tanto se acentuava a primeira vogal E e se deixava muda a A como o contrário, ou se acentuavam as duas, que é o que se faz atualmente.
Este jornal tem crescido muito ao longo dos anos, mas houve uma altura em que me pareceu que tinha estagnado. Era só política, os temas abordados e as notícias eram somente para falar mal.
Houve uma entrevista publicada há já bastantes anos, a um emigrante castelense em terras longínquas, que me fez deixar de comprar o jornal. Deixei mesmo, não suporto que se fale mal da nossa terra, não ia comprar o jornal para ler palavras que eu considerava impróprias na boca de um castelense e indignas de ser aceites por quem realizou a entrevista, muito menos publicadas.
Entretanto o jornal mudou. Mudou a direção, mudaram as mentalidades. E eu voltei a comprar.
Monte do Castelo segue caminho preparando-se para o meio século, que será festejado com pompa e circunstância, espero.
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